Vida! Tu �s passageira como o vento e voraz como um malicioso le�o. Derruba o tempo na velocidade de um leopardo e nos engole a aud�cia do desejo. Com raz�o. Nossas ambi��es muitas vezes s�o desprovidas dos limites da sobreviv�ncia. Queremos muito e pouco conquistamos. Ent�o nos empenhamos em desafi�-la, para provar que somos t�o ligeiros quanto o vento e podemos conquistar o mundo numa corrida contra o tempo que nos resta. Mas tu, vida, � mais esperta que nossa aud�cia. Nos cobre de sonhos e aos poucos nos priva das mais loucas realiza��es.

Lembro-me de muitos momentos felizes de minha inf�ncia. Ali�s, o que seria de ti sem as recorda��es? Talvez apenas a ansiedade de aguardar o nascer de um novo dia indecifr�vel. Recordo das conquistas que me proporcionou atrav�s de minha persist�ncia. O beijo insalubre e inexperiente, no qual os olhos se fecharam e a boca sentia os l�bios deslizarem. Os s�ditos da vol�pia aconselharam-me a beijar o pesco�o, todavia minha l�ngua se encontrou com os cabelos encaracolados que desciam por aquela nuca. Hoje, ensinou-me que as mulheres adoram ser beijadas dos p�s � cabe�a, e cobi�adas, e idolatradas como deusas do prazer.

Tenho saudades dos tempos de escola. Chegava cabisbaixo em casa, disfar�ando a tristeza no olhar. N�o aquela tristeza da derrota e sim da queda, porque � a partir desta que nos erguemos ou nos entregamos. Mas imbu�do de um esp�rito lutador, sabia que a queda s� me servia de li��o, e retornava a subir os degraus da vit�ria. Escondia o boletim entre as folhas do caderno, e ap�s a reflex�o de tal ato, entregava-me � verdade. A� sim, conquistava a primeira batalha, numa luta contra a pr�pria omiss�o. Agora, a responsabilidade cresceu, como uma crian�a que se torna adulta. Sou meu pr�prio avaliador, com vosso aval.

Vivemos �s vezes de saudosismo e continuamos a observar o mundo. O sol continua sua trajet�ria, o vento sopra sobre a terra, as colheitas nos alimentam, as �guas se encontram no mar, e que besteira a minha continuar nessa reflex�o de lugar-comum. Eu continuo a correr contra o tempo que me resta, como simples personagem do cotidiano e v�tima da idade. Ainda tenho muito a aprender, creio, e quero muito conquistar. Logo, me pergunto: ser� que ainda devo desafi�-la? N�o sei, sinceramente. Mas de uma coisa tenho certeza: tu �s minha companheira, e contigo posso contar.