A jornalista Denise Assis lan�ou um bom livro. Mais que isso, abordou um �timo tema, atual e instigante. Sua narrativa em Vende-se Vestido de Noiva, de tirar o f�lego aos mais afincos leitores de romances policiais, mescla aventura e surpresa a cada cap�tulo num cen�rio pouco explorado pelos autores brasileiros: Belo Horizonte.

Com talento, a autora tece uma hist�ria que lembra o estilo de Garc�a-Roza e Agatha Christie. Mas olhando a fundo sua obra, percebe-se uma classe peculiar de compor uma boa hist�ria. Denise se destaca como uma boa surpresa na literatura policial.

Voc� escreve um romance que se passa em BH, fora do eixo Rio-SP freq�entemente explorado pelos autores. Por qu�?

Eu queria escrever uma hist�ria que envolvesse mist�rio e crime, mas n�o se passasse nesse cen�rio que tanto nos amea�a e assombra, que � o do tr�fico do Rio de Janeiro.

Achei, tamb�m, que seria pouco desafiador escrever sobre um tema que eu conheci de perto, como rep�rter, e por isso me decidi por ambient�-lo em Belo Horizonte, capital do estado onde nasci. Foi uma esp�cie de reencontro com a linguagem da minha terra.

Escolhi escrever uma hist�ria que retomasse o meu lado mineiro, o jeito de falar do qual estou distanciada h� 28 anos, desde a minha vinda para o Rio.

A sua narrativa tem f�lego, com frases curtas, como na linguagem de um roteiro, despojada de figuras de linguagem. H� espa�o para met�foras na literatura policial?

H� espa�o para met�foras sim, por�m considero que num policial, nada ajuda mais na trama, do que voc� avan�ar na hist�ria e explorar o perfil dos personagens, dar-lhes movimento e emo��o.

Nisso, a experi�ncia como jornalista ajudou muito. Eu diria que foi fundamental.

Seu texto suscita o drama de Nelson Rodrigues somado ao vi�s misterioso de Garc�a-Roza. H� tend�ncias diversas que influenciam os escritores da nova gera��o. Quais autores marcam o seu trabalho?

Fico lisonjeada com a compara��o, pois sou f� de carteirinha de Nelson Rodrigues. Para mim, ningu�m se debru�ou sobre a mesquinhez humana, no Brasil, como Nelson.

� como se ele tivesse passado a vida na janela, olhando para a casa dos vizinhos e acompanhando o seu cotidiano. Isso me agrada. Gosto dos sentimentos comuns, das pessoas comuns. H� uma tend�ncia atual em se ligar o trailler policial aos grandes centros, a uma a��o mais urbana.

De fato, as grandes cidades s�o mais prop�cias a que os grandes crimes aconte�am, mas penso como Tolstoi. As emo��es t�picas dos seres humanos tanto acometem o homem simples, do vilarejo, quanto os descolados urbanos. Vende-se Vestido de Noiva se passa em um grande centro, mas fala de an�nimos que tanto poderiam morar em BH, quanto num sub�rbio de Nova Yorque.

N�o sei dizer se tive influ�ncias, embora reconhe�a que a gente � fruto do que l�. Sem d�vida os policiais cl�ssicos, como Edgard Alan Poe, a pr�pria Agatha Christie e Georges Simenon foram os que eu mais li. E, nos atuais, Garc�a-Roza � o que mais me agrada. Ele explora a Psican�lise, base de sua forma��o, na constru��o de seus personagens, e isso os torna mais convincentes.

A literatura moderna no Brasil, a seu ver, tem inclina��o para o teor policial?

A literatura brasileira j� passou por v�rias fases. Desde a rom�ntica, � descoberta do Nordeste, com Rachel de Queiroz, Jos� Am�rico de Almeida, e outros. Com Machado ela foi urbana, mas tendendo para a descri��o dos costumes, quase como uma cr�nica, o que nos permitiu imaginar o Rio do s�culo passado e toda a sua efervesc�ncia.

Hoje, n�o sei se pela t�nica da viol�ncia em nossas vidas, h� uma tend�ncia a se escrever sobre ela, o que aproxima a literatura atual, cada vez mais dos traillers policiais. Acredito que os escritores fa�am a cr�nica do seu tempo. E � isso que se est� fazendo hoje. Livros que refletem o cotidiano violento que temos, hoje.

Todo bom livro deve ser adaptado para o cinema? Ali�s, s�o as tend�ncias atuais do cinema que pautam a literatura ou vice-versa?

N�o. H� livros que n�o cabem no cinema. Eu n�o vejo Abusado, grande sucesso do Caco Barcelos, por exemplo, no cinema. Do mesmo modo que Ulysses, de Joyce.

H� outros que j� nascem t�o cinematogr�ficos que a tend�ncia � a de que v�o parar no cinema. O Amante, de Marguerite Duras, � uma das mais bem realizadas adapta��es de livro para o cinema. O m�rito � da escritora, que o concebeu como um roteiro. Eu que li o livro antes de ver o filme, fiquei plenamente satisfeita com o que vi na tela. Estava tudo l�.