M�e e filha no metr�; a menina tinha onze anos e j� se maquiava como uma mulher que encontrara a seguran�a em um relacionamento.

– M�e, tenho que te falar uma coisa.

– Deixa pra depois, Eduarda.

– Mas � importante…

– T� bom, mas n�o me aluga porque estou cansada.

– Promete que n�o vai brigar?

– Brigar? � ficou curiosa, arregalou os olhos seguida por outros passageiros. � Prometo!

A menina demorou um instante, insegura, esfregou as m�os cabisbaixas, olhou ao redor os estranhos como julgadores de um suposto mal ainda n�o revelado.

– M�e, eu t� namorando.

– O qu�? � gritou a mulher, chamando a aten��o de todos no vag�o, no momento que o carro-chefe dava um brusco freio, sinal de susto.

– Voc� prometeu que n�o ia brigar.

– N�o estou brigando, estou assustada. Quem � ele?

– Um colega de classe.

– O nome?

Revirou o olhar para todos os lados, todos atentos, de olhos nela, n�o se intimidou.

– N�o vou falar.

– N�o desrespeite sua m�e, menina!

– Ah, voc� j� namorou um dia, isso � normal.

– Normal? Eu comecei a namorar seu pai aos dezoito anos, dezoito!

– Puxa m�e, os tempos mudaram…

– Mudaram nada, voc� � uma crian�a ainda.

– Crian�a n�o, eu j� sou uma mocinha. Lembra daquele dia que falou que eu tinha virado uma mulher?

Sil�ncio no vag�o, todos atentos, o carro-chefe, l� na frente, recome�ou seu caminho, lento, barulho imut�vel, can��o de um momento conflituoso em parte de seu corpo, duas gera��es se enfrentavam numa quest�o sem respostas.

– Eduarda, � diferente…

– Eu n�o sou diferente de ningu�m. Todas as minhas amigas t�m namorado. At� a Lucinha, aquela feiosa que usa �culos, conheceu um garoto pela internet.

– Internet? Quem � internet?

– Esquece, m�e.

Curto minuto de reflex�o, um sil�ncio inusitado tomara a todos num golpe, uma reflex�o que parecia universal, de repente aquela garotinha havia assaltado o cora��o de gente que n�o conhecia, e essa gente se inundava da presen�a de algo sem resposta, sem solu��o, sem sentido para a vida, como explicar aquilo? Como ajudar a m�e, ou a filha?

– Diga-me Eduarda, como � seu namoro? � perguntou, menos tensa, ou tentando disfar�ar a ansiedade de saber os pormenores, o golpe fatal em experi�ncia materna.

– Bem, a gente conversa, anda de m�os dadas e… d� beijo de l�ngua � disse, franzindo a testa.

– Beijo na boca?

– �, igual na novela.

– Maldita televis�o! Vou conversar seriamente com seu pai, est�o indo longe demais.

– Longe? A gente come�ou a namorar semana passada.

– Deus! E quem mais sabe desse namoro?

– Minhas amigas, os amigos dele, e a tia Mar�lia.

– A professora!?

– � m�e, ela t� por dentro. Ela falou que o namoro dos adolescentes hoje � culpa da globaliza��o.

– Ah �? Ent�o me apresenta quem fez essa tal de Globaliza��o porque eu quero conversar com ele!