Publicada em 2005

Foi-se o tempo em que o Antônio era encontrado no Boteco Belmonte da Praia do Flamengo. Empreendedor que é, consolidou logo uma rede de bares quando constatou uma das verdades imutáveis na rotina do Rio de Janeiro: o carioca gosta de chope com petisco, de segunda a segunda, é claro. Achar Francisco Antônio Rodrigues Pinto – ou, Antônio do Belmonte – foi uma prova de maratona.

Este humilde repórter atrasou quinze minutos numa noite no boteco do Flamengo, depois de roubar a primeira tulipa que viu dando sopa numa bandeja. Pensei que encontraria o dono no balcão com o olhar clínico de anfitrião. Deu água no chope. “Seu Antônio já foi para o Leblon (filial da rede) , disse um garçom. Dois dias depois, nova empreitada rumo à filial do Jardim Botânico, quando a assessoria ligou. Antônio tinha se deslocado para a Rua do Lavradio (nova filial). E, enfim, conheci o Belmonte da Lapa.

Cearense boa praça, Antônio não tem tempo para muita conversa. Tem história bonita para quem chegou ao Rio e trabalhou de faxineiro na Churrascaria Copacabana. Vindo da pequena Hidrolândia, aos 13 anos, lavou o chão do restaurante que depois o acolheu como garçom, por dez anos. Daí, a experiência no trato com boêmios o levou a investir no Carlitos, da Cinelândia, onde ficou mais dez anos, mas como dono. De lá, deu o pontapépara comprar o tradicional Belmonte do Flamengo. Isso foi há nove anos, e desde então construiu a rede de botecos com a cara do Rio. Hoje, aos 34, Antônio tem seis bares – sendo cinco Belmonte

– Não quero ser o melhor, mas sim diferente. O cara pode beber e comer bem com petisco e chope – diz o empresário, na porta do bar na Lavradio, ao rebater o conceito de boteco estilizado.

Antônio fala pouco, trabalha mais. Durante a entrevista, parou para atender o telefone. Era começo de tarde de sexta-feira: “Bota pra correr aí”, foi a senha para um subordinado em um dos bares. “Deixa o fulano no corredor e bota o sicrano na porta”. É assim, com esse jeito bem brasileiro de administrar as coisas, que ele vai levando a rede. Depois de Flamengo, Ipanema, Leblon, Jd. Botânico, Copa e Lavradio, a nova filial foi Niterói. Diz não ter lugar preferido.

– Não, não vejo ponto. Em todo lugar tem gente que bebe – sentencia.

Na contramão dos concorrentes – a Devassa lançou sua quarta cerveja especial e o Manuel & Joaquim batizou a Leviana – Antônio bate pé e reforça que não quer saber de cerveja prpria na sua rede.

– O bom bebedor toma chope. E chope bom é da Brahma! – sorri, ao fazer um merchandising espontâneo.

Seus bares têm exclusividade com a Brahma. Os barris de alumínio, inclusive, são usados nos botecos como divisas e mesinhas, num visual arrojado. O dono não fala em números, mas revela: vende 80 mil litros de chope/mês e administra 400 funcionários, incluindo o Carlitos e a Lanchonete BelCrepes, em Copa.

Outra do Antônio: usar as paredes para animar os ambientes. Quem for à Lavradio, encontra charges gigantes de Jaguar – um de seus ilustres fregueses -, e nos outros pontos, de Newton Bravo : “ele foi o melhor cartunista de bares do mundo” – lembra Antônio.

– Jaguar propôs fazer os desenhos e aceitei. Ele tem a cara de boêmio – define aos risos o empresário.

O Belmonte não é estilizado, reforça o dono, mas é bom lembrar que Antônio imprimiu sua marca. Bichos não entram nos bares. E quem vai ao boteco em traje de banho ou sem camisa sabe que não vai ser atendido, anuncia um cartaz. Isso não é problema. O que não falta é gente vestida pra provar a empadinha aberta de siri ou o risoto de camarão, entre outras preciosidades do cardápio.

No embalo que segue, só falta Antônio abrir um Belmonte na sua Hidrolândia, para deleite dos amigos da terra natal. Não deu tempo de perguntar. Antônio já partia para outro boteco. E o repórter caiu no chope de cortesia.