– Quero ser escritor!

– Deus te salve, menino, disse a m�e assustada.

Foi uma profecia a frase. Ele ainda sonha ser escritor e busca uma salva��o, n�o nessa ordem. Aquela ansiedade de moleque, sabe agora, � a maior inimiga do sonho, e adiou os projetos, embora o desejo mal se esconde em letras inquietas e reveladoras.

Desejo e id�ias. Deveriam andar juntos.. mas, n�o! �s vezes fogem em lados opostos e deixam escritores no meio do papel, sem rumo, despojados da frase perfeita que encerre uma boa hist�ria.

Mas ele quer ser escritor!

Ainda busca a salva��o em livros cl�ssicos, novas ondas gramaticais que permeiam um universo digital, faz pose de m�o no queixo, involunt�rio, viaja em devaneios sentimentais enquanto a tinta da caneta endurece na ponta que parou no papel; as m�os pausam sobre teclados de computadores sem movimentos bruscos que evidenciem o conflito com o cora��o.  

Ele quer ser escritor, mas n�o tem dinheiro, nem fama, n�o conhece o editor tampouco � amigo de pol�tico. N�o mostra a bunda em revistas de fofoca ou aparece em cenas de novela. N�o se envolve em esc�ndalo ou faz loucuras pelo sucesso midi�tico; n�o articula assaltos a cofres p�blicos que lhe rendam seguidas capas de jornais e um futuro best-seller. (E tem mania de escrever n�o!)

Vive na contram�o de uma vida errante que poderia lhe render linhas de desabafo num vil romance autobiogr�fico.

Ele � apenas um literato, serve?

O que define um escritor de fato � sua humildade em reconhecer que n�o sabe nada, s� inventa. � o talento para ser simples aos olhos de qualquer leitor. A vontade de ser o melhor do mundo com a certeza de que n�o vai ganh�-lo.

Deus � um escritor. � o que observa em sil�ncio e redige com maestria a utopia dos homens. Foi esperto. Pulou fora daqui antes que algum s�bio lan�asse sua biografia n�o autorizada. Algu�m mostraria um de Seus erro no livro da vida – quando se esqueceu de dar maior chance aos literatos no mercado editorial.