Foi-se o tempo em que, de posse da caneta esferogr�fica dentro de um cub�culo de papel�o, o eleitor sentia-se livre para manifestar suas fantasias eleitorais – mesmo que elas n�o lhe valessem o sacrif�cio de sair de casa para escolher um candidato. Ent�o, ciente de que s� um santo concebe um milagre e que � imposs�vel a presen�a de um pol�tico metaf�sico neste mundo, o cidad�o n�o titubeava em rabiscar a c�dula: �Deus para presidente!�

Isso, quando n�o chateado pela consuma��o de um feriado sem gra�a, mandava todos os postulantes – a qualquer cargo que fosse – para um lugar comum, menos para os pal�cios de governo t�o almejados. Ou, menos afoito e mais camarada, dava a b�n��o sem exce��o: �Deus ama todos voc�s!� E, quando confuso com tantos n�meros a decorar, mandava um �Deus salve o pa�s!�

� evidente que a implanta��o da urna eletr�nica nos pleitos n�o foge � democracia. Tem-se o direito ao voto – agora pelo teclado – ou � justificativa da aus�ncia dele, mas a m�quina cheia de n�meros suprime, de certa forma, a liberdade de pegar em uma caneta e opinar no papel sobre a postura de um candidato. Mandar algu�m para Bras�lia, democraticamente, ou para o Afeganist�o, discretamente.

Era atrav�s da apura��o dos votos que um mes�rio, por exemplo – quando n�o a m�dia – sabia de fato como um pol�tico era amado ou odiado. Ali sim, � sua frente, os in�meros rabiscos denunciavam as verdadeiras pesquisas de rejei��o a determinado nome.

A nova urna ganhou seu espa�o. Os grot�es, h� pouco tempo, tinham o resqu�cio da c�dula e a esperan�a de um contato com o ser superior. O teclado inibe os palavr�es. Mas, no fim, quem ganha � Deus. Ele ser� poupado.