Patrim�nio Cultural � uma mistura de sabores

A neblina encobre a Pra�a Tiradentes ao amanhecer. O pipoqueiro Jos� Anselmo estaciona seu carrinho numa esquina, enquanto, a 20 metros dele, M�rcio Bastos, seguran�a da Amsterdam Sauer, inicia o seu minucioso trabalho de observar o ambiente – a mesma pra�a que acolhe em algum bar o poeta Neneca, bo�mio assumido que varou a madrugada bolando versos.

Todos eles se conhecem e s�o movidos pela mesma satisfa��o. Vivem na cidade onde, h� cerca de 250 anos, Tom�s Ant�nio Gonzaga lan�ava olhares apaixonados, da sacada de seu casar�o, a Maria Dorot�ia Joaquina de Seixas (quis o destino que se tornasse Mar�lia de Dirceu). E, � mesma �poca, B�rbara Eliodora, deprimida com a pris�o do marido, Alvarenga Peixoto, se entregava aos bra�os do contratador Jo�o Rodrigues, o grande financiador dos Inconfidentes.

Dois s�culos depois, nas mesmas ruelas vagaria noite afora um insatisfeito estudante de farm�cia. Foi sob o c�u de Ouro Preto que este rapaz, Carlos Drummond de Andrade, fortaleceu sua veia liter�ria.

Ouro Preto n�o � mais a mesma, por�m os s�culos que separam os inconfidentes e os cidad�os de 2002 n�o apagaram sua hist�ria. Patrim�nio Cultural da Humanidade, a cidade ganhou ares cosmopolitas sem perder o charme da arquitetura barroca que a consagrou.


Badala��o se junta �s preciosidades

Pelas ladeiras hist�ricas, tesouros arquitet�nicos e sacros ganham a companhia do agito noturno

Hoje, a principal pra�a de Ouro Preto � tomada por pessoas vindas dos mais variados pa�ses. S�o estudantes, aventureiros de mochila nas costas, hippies, fam�lias e executivos em busca da religiosidade das igrejas, das minas de ouro, do clima, da culin�ria e do mais novo atrativo: a intensa vida noturna.

A lenda de que o subsolo da cidade esconde toneladas de ouro persiste como o maior tesouro dos ouropretanos. Mas quem conhece a cidade conclui que isto � um equ�voco. Ouro Preto � seu pr�prio tesouro. A cidade transformou-se em um point para todas as tribos. Restaurantes, teatro, danceterias, bares, cybercaf�s e tabernas s�o redutos para os mais variados gostos. Pode-se encontrar de chorinho e MPB, durante um almo�o no Caf� Restaurante Deguste – onde se serve o vinho Terranova, acredite, produzido no Nordeste brasileiro -, passando por uma chopada vespertina nos bares casados da Rua Direita, ao dance noturno do Centro Acad�mico Escola de Minas – o famoso Caem. Ali, num grande sal�o na Pra�a Tiradentes, foi lan�ada a nova moda da azara��o pelos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto, os ufopistas. N�o estranhe a cena. A nova mania dos jovens, ap�s uma paquera bem-sucedida, � rolar no ch�o aos beijos (isso mesmo). Os bares Planet�rio e Caf� Geraes completam o roteiro. De vez em quando, as rep�blicas de estudantes promovem festas – s�o 83 ao todo.

Mas h� redutos noturnos para os conservadores. Pode-se degustar o alem�o Liebfraumich ou um vinho do Porto no Chal� dos Caldos – a casa faz jus ao nome servindo sopas e caldo de feij�o mineiro. A pizza na pedra � servida no Consola’s, em que o forno divide o espa�o com o sal�o. No Butikim.com.arte, a cacha�a � o atrativo: h� marcas de todo o Brasil. O bar � decorado com produtos em cer�mica marajoara. No local, enquanto aprecia pela janela a igreja Nossa Senhora do Ros�rio, o visitante ouve de Cesaria Evora a Martinho da Vila.

Pr�ximo ao Butikim, h� o Restaurante Acaso 85, um dos maiores enigmas da cidade. S�o tr�s andares de bar no subsolo.


Igrejas enchem os olhos dos visitantes

“L� vai Ouro Preto embora/ Todos bebem mas ningu�m chora/ Em Ouro Preto s� n�o bebe o sino/ que � de boca pra baixo”. Os versos n�o s�o drummondianos, mas de Ol�mpia Cota, uma senhora que vagava pelas ruas e lamentava o adeus de cada estudante. O sino continua. Na verdade, s�o todos os das 13 igrejas que comp�em o belo cen�rio arquitet�nico do Centro Hist�rico. Soma-se � arquitetura barroca ou rococ� de cada um dos templos um atrativo � parte.

– Quando garoto, nesta escadaria aqui, um dia eu acordei e ele estava cantando ao meu lado – diz o guia Ponte Nova, orgulhoso. Ele se refere � escadaria da Igreja Nossa Senhora do Carmo, a �nica em Minas com azulejos portugueses do s�culo 18. E ”ele” era Milton Nascimento, ent�o um jovem aspirante � fama. Ao redor da igreja, ficam o Teatro Municipal e o Museu da Inconfid�ncia, pontos de visita obrigat�ria.

Na Igreja de S�o Francisco de Assis, constru�da em estilo rococ� por Aleijadinho, pode-se encontrar parte do acervo do museu do escultor. O t�mulo do artista fica na Nossa Senhora da Concei��o. Al�m do interior rico em detalhes, na maioria das igrejas as paredes s�o revestidas em ouro. H� templos mais simples, como a Igreja Nossa Senhora do Ros�rio dos Pretos, erguida para escravos em 1762.

Do outro lado da cidade, encravada numa montanha, a Casa dos Inconfidentes resiste ao tempo. Palco outrora das conspira��es lideradas por Tiradentes, a constru��o hoje � hospedagem. Imperd�vel, tamb�m, � a feirinha de pedra sab�o do Largo de S�o Francisco de Assis, onde h� imagens de santos a R$ 1.