Leandro Mazzini

based Brasília, BRAZIL ❤️ 🇧🇷

Publicada em 2006

Quem com ele esbarra na rua, camisa esporte e calça jeans, cabelos encaracolados e cara  e menino, deduz de primeira ser um surfista passeando no Centro do Rio. A história de Kauê Linden, 28 anos, comprova que o rapaz surfa mesmo � na internet.

Em 1999, aos 17, ele abriu a Hostnet no quarto de faxineira de sua casa. Em meses, conseguiu um sócio virtual, morador de Porto Alegre – que só foi conhecer pessoalmente um ano depois. Para tocar a “empresa”, eles papeavam pelo IRC (programa de computador que pode ser considerado um pai do MSN ou avô do Whatsapp). Nasceu assim a HostNet, para hospedar sites no país – àquela época uma novidade por aqui.

– Lembro que o pessoal me achou audacioso: “Ah, viu a internet, acha que vai poder falar com o mundo”, recorda, sobre como descobriu a internet circulando pela agência de publicidade do pai.

Resultado: a HostNet hoje figura entre as quatro maiores do país – e com dezenas de milhares de clientes – ocupa, andares num edifício do Centro do Rio de Janeiro. E Kauê, aquele menino que teclava do quarto, acaba de recusar uma oferta de R$ 20 milhões de um concorrente. Isso não fez dele um engravatado, embora o distancie da mesada paterna. Hoje tem pro-labore, a empresa vale muito mais que a oferta (evita tocar em números), e vive bem. Muito bem.

O case demonstra como a internet imprime, aos poucos, um novo perfil de investidor. Autodidata em tecnologia da informação, Kauê foi acessando as maiores posições no mercado.

– Fui um dos pioneiros. Ficou claro para mim que aquilo era um negócio muito grande.

Quando comecei a entender de hospedagem de sites e internet, pensei que era com isso que eu poderia ficar rico. Sabia que cada vez mais as pessoas, empresas, negócios iam procurar sites.

O empenho do jovem empreendedor se confunde com bordões do setor em que investiu. Não bastasse o sócio virtual, começou a trabalhar em rede. Vislumbrou em clientes  potenciais eventuais parceiros para a companhia. Deu certo.

Trabalhar com internet força o empreendedor a se reinventar diariamente. Daí que Kauê investiu no dinamismo. Por que só vender um pão se poderia entregar também uma cesta com outros produtos do trigo?, se indagaria um padeiro em outros tempos. Tal como um, o empresário foi manuseando sua matéria prima e vislumbrou um campo aberto para avançar.

– A Host não está voltada só no interesse de colocar o site na internet, mas oferece vários sistemas que para os quais cada vez mais as empresas vão migrar, como aplicações para sistemas de contabilidade, de inventários.

Isso quer dizer o seguinte: a empresa começou a desenvolver softwares. E avançou tanto que Kauê já foi chamado pelo Ministro do Planejamento para participar de fóruns sobre o mercado inovador.

– Trabalhamos com software livre. Nós o utilizamos para instalar o plano de hospedagem dos clientes, que permite que eles tenham uma gama de aplicações que vão desde um curso virtual, loja virtual, ao sistema de atendimento on-line. Criamos uma ferramenta paralela, a personalizamos para as necessidades do Brasil – explica.

Com o tempo, surgiu o compromisso social – e até com isso ele lucra. Inventou a Olimpíada de Algoritmo, na qual milhares de alunos da rede pública participam de teste elaborado pela Host, com prêmios. Ele acaba garimpando, assim, mentes brilhantes para trabalharem na empresa. Dá um computador de presente e, (novidade!), o parceiro trabalha de casa.

Kauê quer alcançar em breve centenas de milhares de clientes hospedados. Isso ainda é pouco, diz ele, para um Brasil que tem, segundo seus dados, 40 milhões de empresas e só 1,8 milhão de domínios (dados de 2006) <com.br> (para razão social). O poderoso chefinho da internet ainda assessora artistas de rua, elaborando sites e os ajudando com custeio de eventos. Da janela do andar que ocupa, tem-se uma mostra da imensidão de uma cidade que ainda quer descobrir.

Com a certeza de que tudo aquilo cabe no seu desktop.