Um an�o motoqueiro de terno, gravata e capacete entra queimando pneus numa curva do Largo do Machado. O veloc�metro bate os 50 km/h, compat�veis com a minimoto. O carburador barulhento espanta os pombos da pra�a e chama a aten��o dos passantes. “Meu Deus, o que � aquilo?”, surpreende-se um morador. � Manoel Pimenta da Costa, 78 cent�metros de altura, que acaba de sair das compras nas Casas Sendas.

� a segunda vez que Pimentinha – como � chamado carinhosamente pelos amigos – manda ver numa curva em alta velocidade. A primeira foi no dia em que comprou a moto. F� de Ayrton Senna, ia animado mostrar a m�quina aos amigos, mas se empolgou numa curva e deu com a cara no poste, a cem metros de casa. “Fui desviar de um carro e perdi o controle”, tenta justificar o motoqueiro, que n�o precisa de carteira e n�o paga IPVA.Socorrido por um m�dico, “meio tonto da cabe�a”, foi levado para um hospital. A moto quase teve um destino tr�gico. S� coube na traseira de uma ca�amba da Comlurb, que a despejou, intacta, em frente ao pronto-socorro.

N�o � de hoje que Pimentinha passa por poucas e boas com a minimoto. Achou o modelo na internet e pagou R$ 3.300 � vista numa importadora. N�o sabe quantos quil�metros faz por litro. “Vou botando gasolina e ando”, explica. Roda toda a cidade sem medo de ser massacrado pelos �nibus e virar f�ssil no asfalto. Depois do primeiro choque, tamb�m perdeu o medo dos postes. “Agora quero uma mais potente”, diverte-se.

Dubl� de motoqueiro e ator de TV

Pimentinha nasceu na pequena Ibiapina, no interior do Cear�, onde viveu com 20 irm�os – oito deles vieram para o Rio. V�tima de paralisia infantil aos 5 anos, sofreu para estudar. Come�ou tarde, mas completou o gin�sio, encontrou for�a na religi�o e se descobriu comediante. Vive rindo, at� da pr�pria m� sorte, e assim venceu o trauma de inf�ncia. Voltou a andar, e hoje at� dan�a. “Sou o modelo da fam�lia”, brinca.

O pequeno motociclista � exce��o, e se orgulha disso. Longe dos padr�es de beleza que garantem a boa vida dos gal�s de tev�, chegou ao Rio h� dez anos com o sonho de ser ator. Descoberto por um diretor da Globo, conseguiu o ganha-p�o na emissora. J� fez ponta em nove novelas. Nunca o viu? “Fui um dos herdeiros do Francisco Cuoco no final de Cobras e Lagartos”. N�o lembra? Talvez voc� o conhe�a do quartel de Didi Moc�, com quem gravou por oito meses, ou do Tabajara Futebol Clube, do Casseta & Planeta, com quem atuou por seis anos.

Como atores an�es n�o recebem grandes cach�s, Pimentinha se vira animando festas nos fins de semana. Veste-se de diabinho, de Papai Noel, conta piadas em reuni�es de adultos. “Fa�o o meu trabalho e consigo para os outros pequenininhos tamb�m”, orgulha-se. Quando n�o est� em servi�o, deixa a moto na garagem e atua como barman num barzinho do qual � s�cio, no Cosme Velho. Divide o apartamento com quatro amigos. Todos conterr�neos, mas nenhum deles motoqueiro.

Celebridade no asfalto

Conversa f�cil, extrovertido e determinado, Pimentinha s� se arrepende de uma coisa na vida: ter usado a l�bia para tentar a carreira pol�tica. Foi h� 12 anos, na terra natal, quando se candidatou a vereador pelo PSDB. “Perdi por 50 votos”, lembra. Quatro anos depois, mudou de lado e fundou o PT da cidade. Novo fracasso. Ainda filiado ao partido l�, n�o tem o mesmo �nimo por aqui. Virou opositor do presidente Lula, a ponto de escrever – e recitar – um poema de protesto.

Pimentinha s� n�o ganha dinheiro com a moto. Apesar de despertar a aten��o dos outros, considera-a apenas um meio para correr pela cidade. “As pessoas tiram foto, filmam. Um dia um policial me parou na sa�da do T�nel Santa B�rbara. Eu disse ‘Meu Deus, t� perdido’. Mas ele queria saber onde eu tinha comprado a moto”.

Certa noite, em Copacabana, aproximou-se um grupinho de belas mulheres. Queriam tirar foto na minimoto. Ele foi logo se adiantando, malandro: “� mais f�cil voc� sentar na moto e me colocar no colo”. Dito e feito. Pimentinha saiu bonito na foto.