Quando foi contratado como office-boy para a Academia Brasileira de Letras, aos 17 anos, Luiz Ant�nio de Souza escorregou na gram�tica frente ao imortal Austreg�silo de Athayde, ent�o presidente do tradicional ninho liter�rio. Trocou o �eu� por �mim� numa frase e foi advertido pelo patr�o. Passados 31 anos, Luiz Ant�nio recorda o erro como o trampolim para uma guinada em sua vida. O ex-garoto de recados, morador da Vila Cruzeiro, no sub�rbio, tornou-se bibliotec�rio � hoje o mais antigo da Casa � e fez do contato com os livros mais que uma profiss�o. Hoje fala franc�s e d� palestras. Seu grande sonho, confessa, ainda est� por vir. Quer escrever um livro e tornar-se imortal.� N�o posso negar que seja um sonho de todos os que lidam com isso � revela Souza, ao referir-se a uma vaga no sal�o Petit Trianon.

Ele prefere n�o comentar seus projetos editoriais. Diz que uma cadeira na Casa � quest�o de muito tempo e talento, mas n�o um sonho imposs�vel. E deu uma mostra: exibiu um texto em que fala da import�ncia do livro para a sociedade. De quebra, faz uma breve an�lise da obra de Machado de Assis � seu �dolo. Com base nisso, Souza j� proferiu dez palestras em escolas da Regi�o Metropolitana do Rio.

Em meio a tantos exemplares, o bibliotec�rio encontra campo aberto para se aprimorar � tem uma meta de leitura que, se n�o torn�-lo t�o letrado quanto os imortais, ao menos o colocar� na seleta lista dos amantes da literatura. Em casa, possui 1.200 livros.� Minha m�e mal sabia falar, mas em minha casa havia muitos dicion�rios e enciclop�dias. Hoje, leio pelo menos 25 livros por ano. E tenho muitas outras obras autografadas pelos imortais � diz, com orgulho.

Aos 48 anos, Souza por enquanto quer o anonimato. Discorre sobre pol�tica, futebol e religi�o sem trope�os, com a eloq��ncia adquirida nas tr�s d�cadas de conviv�ncia com os escritores na sede da ABL. Mais �tempo de casa� que ele, s� o romancista Josu� Montello. Ele teve o privil�gio de cumprimentar mais de 40 eleitos. � Uma pessoa que marcou muito a minha carreira foi Antonio Houaiss. Foi para ele que fiz o meu primeiro trabalho como bibliotec�rio e ele se tornou uma refer�ncia para mim.

O contato com os imortais � outro ponto positivo na carreira de Souza, segundo ele conta. Aprendeu a falar franc�s, por exemplo, depois de ganhar uma bolsa do acad�mico Am�rico Jacobina Lacombe, morto em 1993. � Quero viajar para a Fran�a e conhecer a academia de l�, al�m do pal�cio Petit Trianon.

N�o � por menos que Souza respira literatura. Sob sua tutela, na biblioteca, est�o o tinteiro de Euclides da Cunha, a escrivaninha de Olavo Bilac e algumas estantes de Manuel Bandeira. Nas prateleiras, acervos de Machado e Afr�nio Peixoto, entre outros. Fora dali, quer ser professor. Pretende fazer um curso e lecionar Portugu�s.� Esta a gl�ria que fica, eleva, honra e consola � cita a frase machadiana, enquanto cultiva o sonho de uma vaga na ABL.

O imortal Arnaldo Niskier � admirador do bibliotec�rio, mas v� com cautela o seu sonho: � N�o conhe�o ainda nada do que ele escreveu. Para entrar na academia � preciso escrever bem, n�o s� falar bem � ressalta, sem contudo desacreditar Souza.