Eles se conheceram ap�s uma batida de carrinhos de supermercado. Ele, com o carrinho vazio a caminho da se��o de enlatados, atr�s da sardinha para a macarronada solit�ria do s�bado. Afrodite, com latas e pacotes diversos, n�o sentiu tanto o impacto, da� seu susto ser menor que o de Bruno. Mas a pequena colis�o deu in�cio a uma hist�ria entre eles, os protagonistas, com seus carrinhos.

Lembram daquela noite de sexta-feira at� hoje, como se fosse ontem, em busca de um amanh� que lhes traga o consolo de uma companhia. Mesmo que seja a sardinha para o macarr�o do Bruno ou o chantily no caf� vespertino de Afrodite. N�o est�o juntos mais, os quatro anos � a contar da batida dos carrinhos � foram o suficiente para se conhecerem, se amarem e se odiarem. Terminaram o namoro antes que a rela��o acabasse com eles. Houve motivos diversos, para v�rias vezes se olharem com �dio e se distanciarem, como tamb�m reataram em variados epis�dios.

A verdade � que ainda se gostavam, apesar da dist�ncia recheada com o orgulho que cada um deles levava em si. A arrog�ncia do �n�o querer� tombou, no entanto, diante da saudade daquela noite no supermercado vinte e quatro horas: a colis�o frontal dos carrinhos.

E por sentirem saudade, apesar das brigas, da dist�ncia, vez ou outra iam ao supermercado, na sexta � noite, naquele mesmo hor�rio de quatro anos atr�s. Ele, de carrinho vazio e ela, atr�s do chantily. Enchia o carrinho de pacotes no desejo de que aquele incidente recome�asse tudo. Ele, empurrando o carrinho vazio como uma crian�a a vencer obst�culos com sua m�quina. Em v�o. Nunca se encontravam.

Bruno passou do limite do reencontro casual. Arrumou um emprego no supermercado para monitor�-la. Deu certo. O rapaz a encontrou quatro vezes, admirou-a o tempo que p�de, e passaria despercebido no seu of�cio sem que ela notasse seu semblante oculto de arrependimento, n�o fosse o grito do gerente �Bruno, por que n�o est� na se��o do caldo de frango?�. Afrodite ent�o descobriu o que tanto a intrigava nos �ltimos dias de compra, o porqu� de aquela pessoa fantasiada de galinha gigante a seguir no supermercado.

Ela despistou, ficou vermelha, baixou a cabe�a e empurrou o carrinho sem rumo. Ele foi atr�s. Ela viu o frango gigante, baixou novamente a cabe�a, suspirou.. �� voc�, amor?� Aquele amor o derrubou, �sim, Dite, sou eu�..

Quem viu a cena testemunhou a maior prova de amor naquele lugar. Uma mulher linda abra�ada a um frango gigante, que desesperadamente tentava em v�o tirar a cabe�a da fantasia.