Ser mineiro no Rio � usar �culos de sol pra disfar�ar a alegria dos olhos com a paisagem. � ver o mar azul e ter pena do rio cor marrom que corta a cidadezinha do interior. O mineiroca n�o � s� um neologismo, � um estado da alma. Misto de gente que sente saudade da brisa no morro, mas se deleita com a maresia em Ipanema. Ser mineiro no Rio � beber �gua de coco de olhos fechados, porque assim se lembra da pinga servida ao balc�o de madeira do bar � beira da estrada de ch�o. � aquele que come bolinho de bacalhau no quiosque da praia e d� uma olhada esguia no card�pio � procura do tutu com torresmo. Pisa macio na areia branca e quente, com o saudosismo da terra barrenta no p� de moleque da ro�a. V� o Cristo e faz o sinal da cruz, corre para atravessar a rua mesmo sem carros, � porque l�, menino, no Rio, os carros voam, e quando voc� v� eles j� te passaram por cima �.

Ser mineiroca � chegar ao boteco �s cinco da tarde e perguntar se servem bolo de milho com pingado; ir ao Bar do Mineiro em Santa Teresa e pedir um chope. O mineiroca tem um olhar astuto, mas n�o audacioso, e seu sil�ncio prega na alma o medo de se perder. De n�o ser mais mineiro. Torna-se, ent�o, o mineiroca, e fica satisfeito. � aquele que grita ��h, gente, p�ra com isso� diante de um arrast�o na praia; que pede a todos os santos pra n�o encontrar uma bala perdida, porque de perdido j� basta o brasileiro.

O mineiroca gosta de caminhar nas Paineiras pra se lembrar da trilha na ro�a; � o que desconfia da malandragem carioca porque n�o � bobo. Ser mineiro no Rio � gostar de chope, praia, futebol, �gua de c�co e depois rejeitar isso tudo porque sentiu saudade de casa.

Ser mineiro � isso tudo e mais um pouco, de brejeiro, de astuto, de observador, de amante da cidade bonita.