Leandro Mazzini

based Brasília, BRAZIL ❤️ 🇧🇷

Entrevista concedida em setembro de 2003

O italiano Lívio Pepino levou 60 anos de vida para pisar no Brasil. Não tinha pressa, mas confessou estar curioso para acompanhar ”as mudanças sociais” que espera do país Sul-americano com a chegada de Lula da Silva ao poder. Desembarcou sozinho no Aeroporto Internacional do Rio, para uma palestra na UERJ. No trajeto entre o aeroporto e o hotel, sua primeira impressão é que ”falta o silêncio da Europa” à cidade.

Com humor discreto e peculiar dos italianos, não faz questão de se apresentar como um dos juízes colaboradores da Operação Mãos Limpas de seu país – que teve o auge na década de 90 com a prisão dos mafiosos da Itália. ”A operação ajudou a limpar a imagem da Itália”.

Pepino preside hoje a Associação da Magistratura Democrática, um órgão consultivo da operação antimáfia. Amigo do promotor de Palermo Giancarlo Caselli – que foi procurador-chefe da operação -, ainda trabalham em sintonia e só discordam no futebol. Evita falar especificamente sobre o Brasil. Mas revela que alguns pontos das investigações na Itália chegaram aqui. São as ligações com o narcotráfico internacional.

Admite que na Itália ainda falta muito a combater, e vê, com um misto de preocupação e irreverência, um paralelo com os casos brasileiros de corrupção:

_ O problema da corrupção envolve ex-ministros, políticos e secretários de partidos – relata. – Mas não estão presos porque participam da vida política – ri.

Conta que, durante as investigações, emergiram ”ligações do crime organizado da Itália com o do Brasil, apenas no âmbito do narcotráfico”, mas não surgiram suspeitas de envolvimento com políticos brasileiros. Mostra-se um observador das questões sociais da América do Sul. Não aprofunda comentários sobre os problemas. Reconhece, no entanto, que a corrupção É um fator comum em governos, seja nos de primeiro ou terceiro mundos.

_ Com a morte do juiz Giovani Falconi (no início da década de 90, o que deflagrou a operação Mãos Limpas com grande apoio popular) descobriu-se uma certa ligação da máfia italiana com a política. Mas isso não predomina.

Ele lamenta, com um certo constrangimento, um fato particular em seu país. Lembra que o primeiro-ministro Silvio Berlusconi é investigado há anos pelo seu enriquecimento de formas misteriosas na Itália.

Pepino não esconde sua visão sobre o Brasil. Os poderes italianos, admite, não veem ”com brilhantismo” o combate à corrupção ao tráfico em países da América do Sul. Magistrados brasileiros e de Palermo, segundo ele, chegaram a trocar informações sobre os problemas, sem resultados concretos.

_ O que todos sabem é que há ligações muito fortes entre o crime organizado italiano e a América do Sul.

Interessa à Itália uma aproximação maior com o Brasil nessa questão, mas isso esbarra em interesses diplomáticos e em acordos bilaterais. Não acha difícil. Aos risos, esquiva-se de responder se falta no Brasil uma operação mãos limpas. Antes que uma possível linha de colaboração seja concretizada entre as nações, ele dá sugestões:

_ Na Itália, mesmo com o esforço da Justiça e das polícias, ainda falta muito a combater. No Brasil, sem trabalho integrado entre as autoridades, não há solução para o crime organizado – diz, referindo-se também às parcerias com os bancos para monitorar transações suspeitas.