Entrevista concedida em abril de 2001
A escritora norte-americana Margaret George parece ter uma máquina do tempo. Ela já resgatou em seus livros as vidas de Henrique VIII, Mary, a rainha da Escócia, Cleópatra, Maria Madalena e viajou pela Turquia a fim de pesquisar minuciosamente sua nova personagem: Helena de Troia. Em meio a isso tudo, Margaret encontrou um tempo para vir ao Brasil, conhecer o Rio de Janeiro e se apaixonar pela feijoada.
E não parou por aí. Depois de assistir à final do Campeonato estadual de futebol 2001 pela TV, tornou-se torcedora do Flamengo. “O Rio tem uma magia que nenhuma cidade no mundo tem. Aqui você levanta seu astral”, disse sorridente.
O sucesso não tem segredo. Aos 12 anos, escreveu sua primeira história sobre a rainha do Egito, num caderno de escola que guarda consigo e que mostrou orgulhosa durante a entrevista. Para ela, toda mulher tem seu “lado Cleópatra”, sua sedução e seu veneno. Margaret escreveu os três volumes de Cleópatra em sete anos, e o resultado de tanta pesquisa a transformou na maior escritora de biografias históricas da atualidade.
O volume virou best-seller nos Estados Unidos, minissérie de TV pela ABC e já vendeu mais de 100 mil exemplares só no Brasil. O mais novo, “Maria Madalena”, lançado nos Estados Unidos, já trilha o mesmo caminho. Nesta entrevista ao JB Online, ela fala sobre a rainha e revela: “Ainda vou escrever sobre Nero”, dando sinais de que a viagem pelo tempo ainda não terminou.
Você narra as memórias de Cleópatra em primeira pessoa. Como explica essa ousadia?
Acho que fazer uma narrativa na primeira pessoa ajuda a procurar o porquê das coisas; e na terceira pessoa é quando você quer saber como aconteceu. Todos já sabem como é a história, e estava interessada no por que tudo aconteceu. Nesse sentido, é mais fácil projetar as coisas a partir da visão de Cleópatra.
E você “encarnou” mesmo a personagem?
Realmente eu me senti como Cleópatra, vesti os “hobbies” da rainha. Cheguei até a usar joias similares a que ela usava.
Acha que toda mulher tem uma porção de Cleópatra?
(risos) Sim, toda mulher é um pouco bonita e charmosa.
E quem hoje se encaixa no perfil da rainha?
Não creio que exista mulher hoje que tenha as características dela. A mulher teria que ter a postura de Hillary Clinton, o poder político de Clinton ou Tony Blair e a graça de Jacqueline Kennedy. Mas a Madonna talvez se encaixe nisso tudo, se fosse política, é claro.
Qual a maior dificuldade que você encontrou?
O mais difícil foi no Egito, de visitar os lugares onde ela reinou. Em Alexandria , o palácio dela hoje é uma base militar, e não podia tirar fotos. Mas consegui tirar escondido.
E nesses sete anos de pesquisa, deixou alguma coisa por relatar?
Talvez eu tenha escrito alguma coisa a mais (risos). Uma das coisas que impossibilita colocar outros detalhes é devido ao fato do livro ser narrado em primeira pessoa, porque eu descrevo o que ela viu, e deixo muitos fatos políticos e sociais por relatar.
Até que ponto você foi ficcionista nesta biografia?
Eu uso os fatos como eles são. Somente a parte que fala da infância de Cleópatra é quase toda ficção, porque eu não tinha nenhum registro de sua infância, nenhuma carta.
Você gosta muito de biografias. Com todas as experiências, quem você gostaria de ser?
Meu Deus, essa é difícil. Estou em cima do muro em ser Cleópatra e Maria Madalena; Adoraria ter conhecido Jesus.
Neste caso, você já pensou também em escrever sobre Jesus Cristo?
Eu sou cristã, mas não tenho religião. Nunca chegaria a escrever sobre Jesus. O mais próximo que eu posso chegar é de escrever sobre alguém que conviveu com ele. E fiz isso através de Maria Madalena.
Já pensou em escrever sobre personalidades contemporâneas?
Somente personagens históricos, com histórias trágicas, tipo Sheakspeare. Contemporâneos? Talvez Nixon ou Clinton, talvez…
E sobre Colombo, ou alguém da família Real de Portugal no Brasil?
Parece interessante, mas não me passou pela cabeça ainda.
Quais seus pecados como escritora?
Meu pecado é ser longa demais nas cenas que descrevo. Gosto de descrever as coisas para as pessoas visualizarem, como num filme. Gosto de diálogos longos.
Quem é a Margaret escritora e cidadã comum?
(risos) Tenho que me concentrar um pouco. Será que sou diferente dos outros? Eu sou uma pessoa muito melhor como escritora. Sou organizada e me concentro, e faço por prazer. A pessoa Margaret vive perdendo as coisas, mexe em tudo sempre, e nem sempre é organizada. Sou também um pouco preguiçosa e nem sempre sou calma. (o marido, ao lado, concordou). Eu seria muito boa como uma instrutora em museus.
É a primeira vez que vem ao Brasil. Qual a impressão sobre o Rio?
É uma cidade mesmo maravilhosa, cheia de magia. Aqui levanta o astral de qualquer um. Eu me sinto bem. Adorei a feijoada; gostei das montanhas, das praias e das pessoas.